segunda-feira, janeiro 18, 2010

Playdog

Playdog é o título do espetáculo nascido na versão 2009 do projeto Aprendiz em Cena, promovido pelo Centro Apolo-Hermilo. Playdog estreou em novembro daquele ano com a participação de três experientes e reconhecidos atores locais: Auricéia Fraga, Cleyton Cabral e Pascoal Filizola. A peça reúne ótimos três textos: um quadro de "Teatro pretensioso", de Carlos Bartolomeu (PE); "A refeição", de Newton Moreno (PE/SP); e "Lesados", de Rafael Martins (CE). Os jovens encenadores desta versão do projeto são Rafael Barreiros, Rodrigo Cunha e Alisson Castro, que também assinaram a cenografia. A orientação geral foi do encenador Carlos Bartolomeu. Em entrevista ao jornal Diário de Pernambuco, Lúcia Machado, coordenadora geral do Festival de Teatro e diretora do Centro Apolo-Hermilo, afirma que o Aprendiz em Cena é o projeto mais trabalhoso daquela instituição, "mas é o que mais excita, pelo desafio que representa. Precisamos assumir o risco, algo inevitável na arte". E os aprendizes se arriscaram. E que bom que o fizeram. Quem tem medo de errar não avança e, se a peça traz seus deslizes, como um espaço cênico confuso e a dificuldade de fazer a ação servir a esse espaço, também ousa no modo como trata a aparentemente desgastada figura do "clown". O título da peça alude à "vida de cão" que é o jogo (play) cotidiano contemporâneo, o qual remete de imediato à imagem do palhaço (não é a toa que são três clowns que dão vida aos textos da encenação). Mais do que nunca é evidente o quanto o palhaço nos espelha e o adjetivo "absurdo" explode como o que melhor se aplica às ações que vemos desdobrar-se à nossa volta e, consequentemente, dentro de nós. A peça traz influências da narrativa cinematográfica (fragmentação, "closes", trilha climática) e, por vezes, parece citar - e desconstruir - universos como o de Chaplin e Fellini, povoados por personagens que vão da candura à mais tórrida paixão, como Carlitos ou aqueles interpretados pela musa do mestre italiano, Giulieta Massina. Os três atores protagonizam cenas que parecem reboots desconcertantes e apimentados dos universos de obras como "A estrada da vida" e "Em busca do ouro", indo além da dança entre o grotesco e o sublime para ir-e-vir entre a dor e o encantamento, a repulsa e o desejo, o êxtase e o estupor. Playdog exibe transa de essências, ecos de cinema despindo-se no palco, metáforas do apocalipse doméstico desenhadas pela ação de atores corajosos. Gostei do que vi e senti. E muito.