quinta-feira, novembro 30, 2006

sábado, novembro 25, 2006

Fauna urbana IV

Herdeiro da nobre linhagem de besouros aviônicos, o navinseto anuncia o mico aéreo que paguei e que está hoje aqui narrado atendendo à convocação do Leonardo do blog Indizível e seu novo projeto Mico publicável. Leia o mico liperâmico após a foto do navinseto.



















Eu tinha catorze anos, vinha de Belém para Recife num avião com meu pai. Em Fortaleza, última escala da viagem, entraram vários artistas que haviam feito um show naquela cidade. Lembro de Chacrinha e de Wanderléia passando pelo corredor.

Naqueles anos eu enjoava muito quando andava de avião, especialmente em viagens longas. Até ali eu estava bem. Achei que ia chegar no Recife sem problemas, mas quando o avião começou a descida, passando por dentro das nuvens, balançando e dando aqueles sobroços frios na barriga dos passageiros, procurei o saquinho de plástico e vomitei. Era, porém, um saquinho com o fundo furado e o líquido vazou no meu colo, na cadeira, na minha calça, o caos. Papai sorriu, pediu calma, chamou a aeromoça. Ela trouxe toalhas, sorrisos e mais saquinhos. De vez em quando voltava e perguntava se estava tudo bem. Não estava. Mas eu não falei isso para ela.

Minha calça marrom tinha ficado com uma área escura indicadora de umidade justamente nas partes mijantes, cagantes e adjacências. E o avião estava pousando, aquela umidade não ia secar assim. O avião pousou. Torci para abrirem também a porta de trás, como aconteceu em Fortaleza. Claro, pois estávamos sentados quase no fundo do avião e, se a saída fosse pela frente, eu teria que cruzar todo aquele corredor, desfilando evidências que poderiam dar a impressão de que eu havia me borrado todo. E eu só vomitei.

Acontece que mico que é mico, quando se instaura não tem apelação e no Recife resolveram abrir somente a porta dianteira. Lá fui eu, com meu pai na frente - eu pedi a ele - para ver se me escondia um pouco: não sei porque eu me sentia mais envergonhado de parecer ter me urinado do que dar a idéia de que havia me cagado todo. Seguro da eficiência do escudo paterno, comecei a me sentir menos desconfortável, apesar de sentir a calça molhada arranhando minha virilha. Ajudava também o fato de que tinha muita gente saindo na escala, o corredor estava cheio, todo mundo se emprensando e eu pensava: "ninguém vai ver nada na minha roupa nesse vuco-vuco". Porém, lá perto da porta de saída, na primeira classe, vi emergindo altaneiro do encosto de uma cadeira, o cabelão armado cor-de-fogo da Wanderléia.

A luz do sol entrava forte pela porta aberta e a fila parecia mais frouxa naquela área. Entendi que, ao passar por ali, eu certamente ficaria muito mais exposto. Ah, eu nem olhava para os lados. Pelo canto do olho via aqueles cabelos ruivos se aproximando, meu coração aos pulos, acho que eu nem estava respirando. Passei junto da Wanderléia dando um jeito para a minha valise à tiracolo esconder a umidade do traseiro e, quando pensei que tinha conseguido me livrar daquele mico interminável, ouvi uma voz feminina com sotaque carioca comentando com alguém: "nossa, aquele ali se vomitou todo, olha esse cheiro, ai, coitado, que horror!"

sexta-feira, novembro 24, 2006

Fauna urbana III

Se as borboletas sonham, certamente sonham sonhos incomuns. Ainda que elas mesmas pareçam comuns.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Mundão


Eta mundão! Grande, pequeno, bonito, feio, certo, errado... tudo acaba convergindo para uma questão de ponto de vista.

domingo, novembro 19, 2006

sábado, novembro 18, 2006

Extra



















Quando eu achava que estava terminando as postagens e iria pra cama, me dou conta de que quatro blogueiras queridas haviam feito posts sobre meu aniversário, Aleksandra, Cynthia, Ana e Thelma (essa foi a ordem da descoberta, a partir de Alê, que deixou um recado no Liperama). Aí resolvi fazer este post extra, pra ao menos tentar dizer o quanto fiquei feliz com as homenagens delas, artistas da linguagem das palavras e do idioma do sentimento, e com o carinho de todos os amigos que fizeram contato, que apareceram aqui no blog pra comemorar comigo. Por conta de todos vocês, este foi um aniversário mais do que especial. É isso, queridos. Meu melhor abraço, meu melhor beijo pra vocês.

Papo


Vivem conversando o céu e as árvores. Fazem isso por longas horas. Tão diferentes, não se largam nunca. Se o céu é aquele cara superficial, que gosta de falar da aparência da Terra, as árvores não hesitam em discutir as raízes da existência. Esses velhos amigos se adoram porque, de algum modo, se completam no modo como acessam o mesmo planeta.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Multicor





















Azeite extra-virgem português, vinagre de maçã, sal e manjericão fresco. Bom para saladas e para quem reclama da ditadura do azul...

terça-feira, novembro 14, 2006

Sonho


Mel adormeceu no centro de uma metrópole e sonhou que voava num céu xadrez azul desbotado.

segunda-feira, novembro 13, 2006

sexta-feira, novembro 10, 2006

Gávea

Se os antigos navegantes queriam ver seu trajeto do alto, tinham que encarar subir no cesto da gávea. Dava medo, frio na barriga, era perigoso, mas não havia outro modo de se enxergar um pouco mais além. Hoje existem satélites que olham em nosso lugar. São eles que, na maioria das vezes, experimentam em nosso lugar a sensação de estar vendo o incomum. E fazem parecer comum aquilo que nunca vimos realmente.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Quase



















Quase não deu para fazer o post de hoje. São seis e trinta e cinco, a noite já chegou e ainda tem um montão de coisas para colocar em dia no micro (ele esteve na revisão e fez uma falta...). Que coisa, a dependência que se criou em torno dessa maquininha, hem? Ainda me lembro do dia em que ganhei minha primeira máquina de escrever elétrica achando que estava diante de uma extraordinária evolução. Bom, não deixou de ser. O caso é que a evolução continuou. E não vai parar por aqui.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Um ano!

Hoje o Liperama faz um ano de idade. Um ano contactando gente de quem eu já gostava e conhecendo muita gente que hoje também já tem um lugar no meu coração. Comemoro a data oferecendo a todos vocês mais algumas fotos sobre meu tema predileto: o Teatro. São imagens do aquecimento, preparação dos atores e da apresentação de Sangue e ruína, encenação de fragmento de Macbeth, de W. Shakespeare, por Fabiana Monçalu, com André Rosa e Janaína Carvalho. A cena aconteceu no Museu de Arte Sacra da UFBA, com maquiagem de Renata Cardoso, que também fez os figurinos com Tarcísio Almeida. Na técnica, Ana Carla Lira, Luciano Bahia, Marcos Fernandes, Maurício Lessa e Samanta Olm.















terça-feira, novembro 07, 2006

Pane parcialmente remediada

Pessoal, meu micro está com problemas. Espero resolver isso logo. Felizmente consegui postar a foto e o texto de hoje (veja logo abaixo), depois de algumas tentativas frustradas. Abraços a todos.

Telefone



















Pois é, Maria Tereza, você é que é feliz, solteira e livre para o que der e vier. Meu companheiro? E aquilo é companheiro? Um zero a esquerda. O que? Ah, faz, sim. Tudo o que eu quero. É carinhoso. Carinhoso demais. Um chiclete, me alisando o tempo todo. Claro que ele pára. Quando eu peço privacidade ele pára, me deixa quieta. O problema é que eu preciso pedir. Senão ele não se toca, sabe? Na cama? Ah, isso eu já lhe falei: um desespero. Quer que eu conte de novo? Me lambe toda, faz de tudo. Não tem nada brocha nem precoce e se tiver, descansa um pouco e lá vem outra vez. Não sossega enquanto não me satisfazer. Claro que isso me incomoda. Essa tensão toda pra me agradar! Muito estresse, não é? O que? Aaaamoooor? E isso é amor? Que nada, amiga. Acho que ele está pensando mais nele do que em mim, na culpa que vai sentir se não me fizer gozar. E se eu não quiser gozar? Claro que eu quero, não é, Maria Tereza, mas eu posso não querer. Ele devia ter essa sensibilidade, mas nem se toca. Fica lá, naquela agonia, só falta soltar fogos em cima de mim. É quase uma imposição, entende? Tem uma coisa autoritária aí que eu não engulo. Claro que é bom ele se preocupar em me excitar e depois esperar por mim, sim. É óbvio que prefiro que ele só goze depois de mim. Mas isso não está certo, entende? Por que? Como, "por que", Maria Tereza? Porque é esquisito. Olha, se isso não é coisa de gente que se controla demais, então é coisa de uma pessoa que não se impõe, não tem personalidade, sabe? O que? Ah, não acho exagero, não. Se não é egoísmo e prepotência dele, só pode ser submissão. Os dois casos me incomodam profundamente. Como? Me amar? Lá vem você de novo. Não julgue pelas aparências, queridinha. Desde quando ficar tentando agradar o outro é prova de amor? Precisa ver a vergonha que ele me fez semana passada quando foi me buscar na terapia, buzinando feito um louco. De longe eu já ouvia e sabia que era ele. A sala de espera cheia de gente. Eu reclamei, claro, e ele disse: "eu não conseguia controlar minha alegria". Imagina só! Alegria! Ele disse que era alegria porque ia me encontrar. Como é que eu posso acreditar numa história dessas? Buzinando de alegria? Não me convenceu. E eu sei lá que outro motivo teria? Vai ver que queria me fazer de palhaça na frente dos outros. O que? Sim. Sim. Ok. Tá. Sei lá se ama, Maria Tereza. É tão exagerado. Acho que ou quer me manipular para se aproveitar de mim ou está me paparicando com medo de me perder. Ah, sim, falar, ele fala. Chega e diz: "eu te amo". Mas falar é fácil, não é? E quer saber? Acho que ele faz isso só porque leu numa revista que mulher gosta de ficar ouvindo "eu te amo" o tempo todo. Não acredita que ele faz isso? Faz sim, juro. O tempo todo: eu te amo, te amo tanto, te amo demais, igual às músicas do Wando. Ah, você acha ótimo? É porque ele não é seu companheiro. Uma vez ou outra, tudo bem, amiga, mas, sinceramente, aquela pessoa do seu lado, a todo instante dizendo que te ama, tenha dó. Até o olhar dele todo derretido parece estar dizendo: "te amo". Me poupe, não é? Agora veja: da minha família, ele não gosta. Dos meus amigos de infância e da faculdade, ele não gosta. Quer dizer, não é que não goste. Ele diz que não tem "um passado" com eles. Ora essa, então ele está me dizendo que faz as nossas visitas semanais por obrigação, não é? Claro! Sabia que ele nem se incomoda se eu for sozinha visitar meus pais? É, minha filha, mas eu me incomodo. Óbvio, quer se livrar de mim por alguma razão. Não, Maria Tereza, ele é um ingrato! Ingrato, porque eu mesma não me canso de fazer o sacrifício de estar com a família e os amigos dele. Uma vez por mês! Na casa daquela mãe dele. Dela? Eu gosto mais ou menos, mas a velha me adora. Ou finge muito bem, não é? Pôxa, Maria Tereza, eu quero que ele esteja comigo. Se ele não tem "um passado" com as pessoas que amo, então crie "um presente" com elas, ora essa. Quando eu pressiono ele fala: "eu me apaixonei por você, não por eles". Qual é? Me sinto sozinha, pelo amor de Deus! Quer ver outra coisa? Ciúmes de mim, ele não tem. É. Nenhum. Vou onde quero, a hora que quero e ele nem nem. E tem mais: adora que eu use umas roupas bem sensuais. Só em casa, não. Fora, também. Precisa ver o biquini que ele comprou pra mim. Quando abri o presente pensei que era um cadarço de tênis. Não, exagero meu, o biquini é lindo, sim, uma graça. Mas é microscópico, Maria Tereza. Ele está me achando com cara de que? As estrias do peito e a celulite da bunda ficam todas de fora. É, eu sei. Tem gente que nem nota. Duvido que você nunca tenha notado. Tá bom, não são tão feias, assim, mas sei que estão bem à vista. Ora, Maria Tereza, espera aí, eu me sinto exposta, horrorosa, isso é o que conta. Mas ele, não, fica como se estivesse todo orgulhoso, diz que acha meu corpo o máximo e adora quando nota que os amigos dele ficam desconcertados quando eu estou por perto. Vê se pode? E quer que eu acredite nessa conversa dele. É um saco, não é? Vou te contar: acho que se eu tivesse um amante ele não ia dar a mínima! Agora, o que me parece é que ele é quem deve estar por aí com alguma amante. Por isso fica nessa ambiguidade: de um lado, me oferecendo para os amigos dele, e do outro, todo exagerado, pegajoso, falando "eu te amo" feito um papagaio. O que? Não entendi sua pergunta. Por que ele se daria a esse trabalho? Ahahahah! Quando você casar, vai entender, minha filha, aguarde, estou falando. Garanto que essas micagens dele são todas para disfarçar. Boba, você não percebe? Aprontação de macho! Puro disfarce misturado com sentimento de culpa. Evidências? Não. Batom na camisa? Nada. Nunca chega tarde em casa. Os homens de hoje evoluíram, não cometem os errinhos tolos de seus antepassados. Mas essas coisas a gente sente. Não precisa ver. Como? Ah, sim, eu e ele saímos muito. Sozinhos, claro, mas saímos. Até demais. Tanto que me cansa. Ele diz que 'gosta' de ficar a sós comigo. É como eu disse, nesses casos ele não me larga. Contraditória, eu? Você não entendeu. O problema é que ele só quer as coisas do jeito dele. Minha opinião não conta. Quer dizer, conta muito pouco. Aliás, olha, em resumo, a gente tem dificuldade de se entender. Quer um exemplo? Eu já tentei falar com ele sobre tudo isso. Várias e várias vezes. Sabe o que ele me diz? "Você complica muito as coisas, meu amor. Venha p´ra cá, venha". Tudo dele acaba no "venha p'ra cá, venha". Está vendo? Sinal de que só quer saber dele, de satisfazer as necessidades dele. O que? Você também acha que eu complico? Ô, Maria Tereza! Você é minha amiga ou amiga dele? Sim. Tá. Claro. Dos dois. Entendi. Claro. Você tem razão. Mas eu tenho certeza de que tem coisa aí! Claro que tem, amiga. Eu já disse, eu sinto. Uma energia, bem aqui, dizendo para eu me cuidar. Intuição, não é? Não tenho culpa se você bloqueou a sua. Se você estivesse no meu lugar sentiria também. Por essas e outras eu briguei com ele. Foooooi. Brigamos, eu não lhe disse? Estou sem falar com ele desde ontem. Foi. Ontem. No fim da tarde. Eu estava na mesa, ele chegou por trás, me pegou de surpresa e tacou um beijo, enfiando aquela língua enorme na minha boca. Transar? Que transar que nada, Maria Tereza! Eu gritei com ele. "Que invasão é esta?" Gritei. Tinha que gritar. Me senti invadida, ele com aquela língua na minha boca, entrando sem pedir licença. Ele saiu todo sem graça. Achei pouco. Ele que se lasque p'ra lá com as grosserias dele. Nada de mais? Ele foi desrespeitoso, amiga! Me assustou! Se eu deixar, um dia ele pode achar que tem o direito de me estuprar! Não posso dar mole, sabe? An? Maria Ter... espera um pouco, Maria Tereza. O que é aq... espera, ouvi alguém tossindo na varan... Minha vida? É você? Ah... você estava aí na rede? Não tinha notado. Eu lhe acordei, foi? Estou falando muito alto? Sim... você ouviu? Tudo tudo tudo? Pois saiba que... saiba que... deixe eu falar! Não gostei de saber diss... Olhe, isso é falta de educa... ouvir a conversa alhei... o que? Oh! Que caixa é essa que você está abrindo? Kit? Que kit é esse? Oh! O que? Ir para onde? ... Desculpa, Maria Tereza, mas ele acabou de me mandar para a... ah, você ouviu daí? Foi. Espere, meu amor! Foi, amiga, ele me mandou... Para onde você vai? Ele está saindo, Maria Tereza! Olhe, eu não vou para esse lugar horrível que você me man... Ele bateu a porta na minha cara, Maria Tereza! Eu não vou para esse lugar, amiga! Ele que vá com a mãe, o pai, aquela família chata e todos os amigos dele! Ele é quem vai! Esse grosso! Vou desligar agora. A gente se fala depois. Buáááááááá-click-pu-pu-pu-pu-pu-pu.

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segunda-feira, novembro 06, 2006

Barravento

Com sua vista privilegiada e uma coberta que lembra as velas de um barco, o Barravento é um dos bares mais conhecidos dos turistas que vêm à Salvador. Fica perto do Farol da Barra e já foi mencionado várias vezes pela Cidinha, que também gosta muito do Forte São Marcelo e do Mercado Modelo - que só apareceram de longe neste blog.