terça-feira, novembro 07, 2006

Telefone



















Pois é, Maria Tereza, você é que é feliz, solteira e livre para o que der e vier. Meu companheiro? E aquilo é companheiro? Um zero a esquerda. O que? Ah, faz, sim. Tudo o que eu quero. É carinhoso. Carinhoso demais. Um chiclete, me alisando o tempo todo. Claro que ele pára. Quando eu peço privacidade ele pára, me deixa quieta. O problema é que eu preciso pedir. Senão ele não se toca, sabe? Na cama? Ah, isso eu já lhe falei: um desespero. Quer que eu conte de novo? Me lambe toda, faz de tudo. Não tem nada brocha nem precoce e se tiver, descansa um pouco e lá vem outra vez. Não sossega enquanto não me satisfazer. Claro que isso me incomoda. Essa tensão toda pra me agradar! Muito estresse, não é? O que? Aaaamoooor? E isso é amor? Que nada, amiga. Acho que ele está pensando mais nele do que em mim, na culpa que vai sentir se não me fizer gozar. E se eu não quiser gozar? Claro que eu quero, não é, Maria Tereza, mas eu posso não querer. Ele devia ter essa sensibilidade, mas nem se toca. Fica lá, naquela agonia, só falta soltar fogos em cima de mim. É quase uma imposição, entende? Tem uma coisa autoritária aí que eu não engulo. Claro que é bom ele se preocupar em me excitar e depois esperar por mim, sim. É óbvio que prefiro que ele só goze depois de mim. Mas isso não está certo, entende? Por que? Como, "por que", Maria Tereza? Porque é esquisito. Olha, se isso não é coisa de gente que se controla demais, então é coisa de uma pessoa que não se impõe, não tem personalidade, sabe? O que? Ah, não acho exagero, não. Se não é egoísmo e prepotência dele, só pode ser submissão. Os dois casos me incomodam profundamente. Como? Me amar? Lá vem você de novo. Não julgue pelas aparências, queridinha. Desde quando ficar tentando agradar o outro é prova de amor? Precisa ver a vergonha que ele me fez semana passada quando foi me buscar na terapia, buzinando feito um louco. De longe eu já ouvia e sabia que era ele. A sala de espera cheia de gente. Eu reclamei, claro, e ele disse: "eu não conseguia controlar minha alegria". Imagina só! Alegria! Ele disse que era alegria porque ia me encontrar. Como é que eu posso acreditar numa história dessas? Buzinando de alegria? Não me convenceu. E eu sei lá que outro motivo teria? Vai ver que queria me fazer de palhaça na frente dos outros. O que? Sim. Sim. Ok. Tá. Sei lá se ama, Maria Tereza. É tão exagerado. Acho que ou quer me manipular para se aproveitar de mim ou está me paparicando com medo de me perder. Ah, sim, falar, ele fala. Chega e diz: "eu te amo". Mas falar é fácil, não é? E quer saber? Acho que ele faz isso só porque leu numa revista que mulher gosta de ficar ouvindo "eu te amo" o tempo todo. Não acredita que ele faz isso? Faz sim, juro. O tempo todo: eu te amo, te amo tanto, te amo demais, igual às músicas do Wando. Ah, você acha ótimo? É porque ele não é seu companheiro. Uma vez ou outra, tudo bem, amiga, mas, sinceramente, aquela pessoa do seu lado, a todo instante dizendo que te ama, tenha dó. Até o olhar dele todo derretido parece estar dizendo: "te amo". Me poupe, não é? Agora veja: da minha família, ele não gosta. Dos meus amigos de infância e da faculdade, ele não gosta. Quer dizer, não é que não goste. Ele diz que não tem "um passado" com eles. Ora essa, então ele está me dizendo que faz as nossas visitas semanais por obrigação, não é? Claro! Sabia que ele nem se incomoda se eu for sozinha visitar meus pais? É, minha filha, mas eu me incomodo. Óbvio, quer se livrar de mim por alguma razão. Não, Maria Tereza, ele é um ingrato! Ingrato, porque eu mesma não me canso de fazer o sacrifício de estar com a família e os amigos dele. Uma vez por mês! Na casa daquela mãe dele. Dela? Eu gosto mais ou menos, mas a velha me adora. Ou finge muito bem, não é? Pôxa, Maria Tereza, eu quero que ele esteja comigo. Se ele não tem "um passado" com as pessoas que amo, então crie "um presente" com elas, ora essa. Quando eu pressiono ele fala: "eu me apaixonei por você, não por eles". Qual é? Me sinto sozinha, pelo amor de Deus! Quer ver outra coisa? Ciúmes de mim, ele não tem. É. Nenhum. Vou onde quero, a hora que quero e ele nem nem. E tem mais: adora que eu use umas roupas bem sensuais. Só em casa, não. Fora, também. Precisa ver o biquini que ele comprou pra mim. Quando abri o presente pensei que era um cadarço de tênis. Não, exagero meu, o biquini é lindo, sim, uma graça. Mas é microscópico, Maria Tereza. Ele está me achando com cara de que? As estrias do peito e a celulite da bunda ficam todas de fora. É, eu sei. Tem gente que nem nota. Duvido que você nunca tenha notado. Tá bom, não são tão feias, assim, mas sei que estão bem à vista. Ora, Maria Tereza, espera aí, eu me sinto exposta, horrorosa, isso é o que conta. Mas ele, não, fica como se estivesse todo orgulhoso, diz que acha meu corpo o máximo e adora quando nota que os amigos dele ficam desconcertados quando eu estou por perto. Vê se pode? E quer que eu acredite nessa conversa dele. É um saco, não é? Vou te contar: acho que se eu tivesse um amante ele não ia dar a mínima! Agora, o que me parece é que ele é quem deve estar por aí com alguma amante. Por isso fica nessa ambiguidade: de um lado, me oferecendo para os amigos dele, e do outro, todo exagerado, pegajoso, falando "eu te amo" feito um papagaio. O que? Não entendi sua pergunta. Por que ele se daria a esse trabalho? Ahahahah! Quando você casar, vai entender, minha filha, aguarde, estou falando. Garanto que essas micagens dele são todas para disfarçar. Boba, você não percebe? Aprontação de macho! Puro disfarce misturado com sentimento de culpa. Evidências? Não. Batom na camisa? Nada. Nunca chega tarde em casa. Os homens de hoje evoluíram, não cometem os errinhos tolos de seus antepassados. Mas essas coisas a gente sente. Não precisa ver. Como? Ah, sim, eu e ele saímos muito. Sozinhos, claro, mas saímos. Até demais. Tanto que me cansa. Ele diz que 'gosta' de ficar a sós comigo. É como eu disse, nesses casos ele não me larga. Contraditória, eu? Você não entendeu. O problema é que ele só quer as coisas do jeito dele. Minha opinião não conta. Quer dizer, conta muito pouco. Aliás, olha, em resumo, a gente tem dificuldade de se entender. Quer um exemplo? Eu já tentei falar com ele sobre tudo isso. Várias e várias vezes. Sabe o que ele me diz? "Você complica muito as coisas, meu amor. Venha p´ra cá, venha". Tudo dele acaba no "venha p'ra cá, venha". Está vendo? Sinal de que só quer saber dele, de satisfazer as necessidades dele. O que? Você também acha que eu complico? Ô, Maria Tereza! Você é minha amiga ou amiga dele? Sim. Tá. Claro. Dos dois. Entendi. Claro. Você tem razão. Mas eu tenho certeza de que tem coisa aí! Claro que tem, amiga. Eu já disse, eu sinto. Uma energia, bem aqui, dizendo para eu me cuidar. Intuição, não é? Não tenho culpa se você bloqueou a sua. Se você estivesse no meu lugar sentiria também. Por essas e outras eu briguei com ele. Foooooi. Brigamos, eu não lhe disse? Estou sem falar com ele desde ontem. Foi. Ontem. No fim da tarde. Eu estava na mesa, ele chegou por trás, me pegou de surpresa e tacou um beijo, enfiando aquela língua enorme na minha boca. Transar? Que transar que nada, Maria Tereza! Eu gritei com ele. "Que invasão é esta?" Gritei. Tinha que gritar. Me senti invadida, ele com aquela língua na minha boca, entrando sem pedir licença. Ele saiu todo sem graça. Achei pouco. Ele que se lasque p'ra lá com as grosserias dele. Nada de mais? Ele foi desrespeitoso, amiga! Me assustou! Se eu deixar, um dia ele pode achar que tem o direito de me estuprar! Não posso dar mole, sabe? An? Maria Ter... espera um pouco, Maria Tereza. O que é aq... espera, ouvi alguém tossindo na varan... Minha vida? É você? Ah... você estava aí na rede? Não tinha notado. Eu lhe acordei, foi? Estou falando muito alto? Sim... você ouviu? Tudo tudo tudo? Pois saiba que... saiba que... deixe eu falar! Não gostei de saber diss... Olhe, isso é falta de educa... ouvir a conversa alhei... o que? Oh! Que caixa é essa que você está abrindo? Kit? Que kit é esse? Oh! O que? Ir para onde? ... Desculpa, Maria Tereza, mas ele acabou de me mandar para a... ah, você ouviu daí? Foi. Espere, meu amor! Foi, amiga, ele me mandou... Para onde você vai? Ele está saindo, Maria Tereza! Olhe, eu não vou para esse lugar horrível que você me man... Ele bateu a porta na minha cara, Maria Tereza! Eu não vou para esse lugar, amiga! Ele que vá com a mãe, o pai, aquela família chata e todos os amigos dele! Ele é quem vai! Esse grosso! Vou desligar agora. A gente se fala depois. Buáááááááá-click-pu-pu-pu-pu-pu-pu.

A ficha caiu? É a hora do kit VA-PARA-PQP! Adquira já o seu.
Um produto CANABRASIL. Não nos responsabilizamos pelas consequências do uso do nosso produto, mas também não reivindicamos participação nos lucros que ele venha a lhe trazer.

16 comentários:

Vivien Morgato : disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.....genial Felipe, adorei!!!!.....mas que mulherzinha mais chata, gente...!!!!!

Aleksandra Pereira disse...

Ah, meu querido, que delícia!
Tadinha da Maria Tereza, ô amiga neurótica essa... mas nós somos mesmo neuróticos quando inseguros. Não sei se os homens são exatamente assim, mas mulheres encerram essa indecisão, esse pensar o tempo todo sobre a intenção do outro.

Que adiantou? Foi a infeliz ganhadora do Kit PQP, que não tem cheiro (nessa versão, aguardamos o update) e nem solta as tiras, mas com 1001 utilidades.


Beijo

Anônimo disse...

ROTFLMAO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Felipe, meu caro, quando li você dizendo "Que caixa é essa que você está abrindo? Kit? Que kit é esse?" quase mijei nas calças de tanto rir!!!

Como o negócio já tinha descambado para a putaria de cara, quando li a broaca dizendo "Tem uma coisa autoritária aí que eu não engulo"... pensei cá com meus botões... ah... engoli sim que eu sei! hehehehe

Pelo visto vou ter que aumentar a produção dos kits PQP porque tendo um sócio como você, vai vender mais que água.

abraço,

paty disse...

Muito bom! Não, não..òtimo teu texto Lipe! Olha preciso de um kit urgente pq o que tenho de amigas neuróticas PQP!!!!!KKKKKKKKK.Bjão Lipe.

TARCIO OLIVEIRA disse...

Conclusões, óbvias:
1- O kit é imprescindível;
2- Mulher (sempre) fala demais;
3- Felipe é porreta!
Bjos.

Luiz Felipe Botelho disse...

Coitadinha da mulher, Vivien. Ela só está com dificuldade de admitir que é ela que não gosta do cara. Aí fica assim, um pouco... chata!
:)

Luiz Felipe Botelho disse...

Também somos assim, Alê. Ao nosso modo, claro, mas no fundo pode rolar a mesma agonia. Homem também fissura e neurotiza quando se sente inseguro. Como dizia minha avô, "fica vendo chifres em cabeça de cavalo". E não só na do cavalo. :)

Várias versões do Kit PQP serão lançadas, inclusive a versão para crianças, o kit AAAAAAAAAI. Nada impede que este produto também seja usado por adultos, só que o efeito é atenuado. :D

Luiz Felipe Botelho disse...

Diga aí, sócio!
Empresa de vento em popa. Estamos iniciando uma grande transformação nos costumes através do kit VA-PRA-PQP! O bom é que não fazemos como o Bill Gates, que cobra uma nota pelos produtos dele. Nosso kit é uma pechincha. O nosso lucro vem pelo fato de que todos precisarão dele em algum momento da vida. :D

Mas, falando da bruaca, tu sacaste até as entrelinhas, hem?

Abração

Luiz Felipe Botelho disse...

Paty, acabamos de despachar um container repleto de kits VA-PRA-PQP direto para o porto de Santos. Use com sabedoria! :) :) :)
Beijão

Luiz Felipe Botelho disse...

É vero, Tárcio. Ninguém pode passar sem um kit VA-PRA-PQP. Tem que ter um sempre à mão. A gente nunca sabe quando vai precisar. :)

Quanto à falação das mulheres, eu só digo que essa moça do post depõe contra o gênero feminino, pois nem todas são assim. Mas com certeza o companheiro dela vai sair dessa história reclamando para os amigos e aí todos vão lembrar só das más experiências. Pode crer. É mais fácil lembrar do ruim, da cicatriz, do que do gostoso. Velho, essa mulher do post faaaaaaaaaaaala e ainda falou pouco. Se não tivesse recebido o kit, garanto que estava conversando com a Maria Tereza até agora. :D

Pô, fiquei ancho com o porreta. Foi o segundo 'porreta' que recebi hoje. O outro foi da mãe da minha companheira de apartamento. Primeiros porretas da minha vida. Sério!
Valeu, cara!
Bjão

Mariana Mesquita disse...

Ai, Lipe. Às vezes a gente se põe nessa situação de amiga de Maria Tereza sem sentir. Que bom que a ficha pode cair antes do recebimento do kit... É difícil se deixar amar, sabia? Beijo.

Luiz Felipe Botelho disse...

Ô Mari, me diz, tu achas que se eu não tivesse um pouco de vivência de chato neurótico eu poderia estar escrevendo sobre isso?
Claro que eu sei como é difícil se deixar amar. E que pena que as fichas as vezes demoram tanto a cair. Para os dois lados, né?
E que bom que a gente está podendo falar sobre isso e até rir dessa doideira toda. É essa doideira que isola a gente da gente que é a grande chata de todas as histórias.
Beijão

Aleksandra Pereira disse...

Porto de Santos?
Vixe, tá aqui em casa! Vou usar minhas costas quentes e mandar descer um container só pra mim... me aguardem...

GÊNERO CINEMATOGRÁFICO disse...

...venha p'ra cá, venha Flip!
ha ha ha
beijo
óoootima história

Luiz Felipe Botelho disse...

Ahahahah!
Queres um conteiner pra ti tb, Alê?
Já despachei!
Bj

Luiz Felipe Botelho disse...

Vou já, Tchory!
Bjão