domingo, dezembro 16, 2007

Elas

As fotos desta semana mostram um pouco do trabalho de estréia do ator Jorge Féo como diretor. Trata-se da peça Elas, interessante montagem onde quatro monólogos de autores diferentes (Eduardo Matos, Moisés Neto e Pedro Félix, Rosa Félix) se interpenetram na cena. Recorrendo às possíbilidades de flexibilização do espaço-tempo teatral, Féo propõe que quatro personagens ocupem o mesmo quarto simultaneamente sem que se dêem conta umas das outras. A peça mostra facetas possíveis a um universo típico de mulheres de classe média, independentes - ou quase - focadas a partir de situações-limite envolvendo jogos afetivos, conflitos familiares e desencantos cotidianos. Apostando na capacidade de quatro jovens atrizes (Chandelly Brás, Laís Vieira, Maria Odete Araújo e Paulina Albuquerque) em darem conta desse desafio que mixa múltiplas nuances emocionais num palco intimista (como é caso do Teatro Joaquim Cardozo), a encenação valoriza o trânsito entre a linguagem coloquial e a poesia que os quatro textos - e o próprio cotidiano - contêm. Colaboram para esse resultado um minuncioso, sensível e bem executado trabalho de interpretação associado ao bom uso do cenário do quarto, cheio de referências femininas que funcionam tanto como elemento concreto, físico, capaz de ordenar e dar segurança à ação das atrizes naquele espaço, quanto uma ponte entre o imaginário das personagens e o da própria platéia. E não se trata de uma experiência meramente voyeurista. São confissões consentidas, das personagens para a platéia cúmplice, em interpretações intensas, convincentes e mesmo surpreendentes, a julgar pela pouca idade das atrizes.

Creio que algumas marcas não-naturalistas merecem melhor elaboração e/ou organização na cena, bem como as intérpretes precisam adquirir mais segurança nos instantes em que as quatro se movimentam em cena ao mesmo tempo (não há muito espaço e, como o risco de choque é grande, a cautela transparece nas atrizes). Também é preciso cuidado com os picos emocionais, pois gritos, explosões de irritação, alterações bruscas de voz, tudo isso demanda do ator árduo exercício de precisão para que não soem forçados nem se distanciem do partido estético do trabalho. Ajustes a parte, que fique bem claro que estas observações são detalhes que não comprometem o ótimo resultado dessa proposta, ousada, cheia de vida e paixão. Poderia ainda escrever muito mais sobre detalhes bacanas que o espetáculo traz, desde a escolha - e o uso - de certos objetos de cena à própria fragmentação e recombinação dos quatro textos, que acabam por compor um todo aberto e harmônico. Mas acho até que escrevi demais, o que não é a proposta deste blog. Tudo bem. Me empolguei com o que vi, admito. Fiquei feliz de ver o trabalho desse diretor que estréia com o pé direito e de um elenco que sabe honrar o palco que pisa. Esse pessoal ainda vai dar muito o que falar...































































































































6 comentários:

Anônimo disse...

Bonito, Sócio! Deu vontade de ver...

Luiz Felipe Botelho disse...

Ano que vem Elas estarão de volta, sócio. Posso te dar um toque quando as datas e local estiverem confirmados.

Anônimo disse...

Pude ter o prazer de assistir esta incrível peça teatral, admito que nao pisquei o olho um só segundo...grande trabalho, grandes escritores, grande diretor!!

Aleksandra Pereira disse...

Poxa, eu daqui tava era querendo que escreve mais, eu praticamente me senti lá!

beijos, meu querido, Boas Festas, tudo de bom prá ti, fiquei longe mas a consideração é a de sempre, e crescendo!

Luiz Felipe Botelho disse...

É isso aí, Lu.
Chega de preconceito com estreantes. Tem muita gente nova que, por não se cobrar tanto, acaba ousando mais e apresentando resultados melhores até de quem já tem certa experiência.

Luiz Felipe Botelho disse...

Legal, Alê!
Se eu pudesse escreveria mais, sim. Adoro compartilhar esses momentos bacanas.

E tudo de bom pra ti, tb.
E não acredita nesse lance de longe e perto. Isso é para quem acha possível a gente se distanciar daqueles que já moram para sempre no coração da gente. E não falo isso da boca pra fora. Realmente é assim que sinto.
Beijão