Já mostramos aqui no Liperama imagens da encenação limoeirense de Deus Danado, peça de João Denys. Agora são as fotos da versão de Nildo Garbo para o mesmo texto, com produção do Grupo de Teatro Arte-em-Cena (Caruaru-PE). Impactante e bem cuidada, esta encenação traz no elenco Severino Florêncio, Rafael Amâncio e Welba Sionara. Florêncio está excelente como Teodoro, o padrinho. O experiente ator compôe o personagem transitando com fluência pelos meandros daquela aparentemente áspera e insensível personalidade que, aos poucos, exibe múltiplas camadas emocionais. Nessa dinâmica, revela a profunda humanidade ali contida, supostamente distorcida e aviltada pelas circunstâncias. Rafael é um jovem talento que se entrega totalmente às exigências do dificílimo papel de Luiz, o afilhado. Porém, apesar da disponibilidade, poderá render muito mais se refinar sua prática: na récita que assisti, ele tendia a tangenciar o caricatural nos momentos mais fortes, o que evidentemente enfraquecia o resultado de sua interpretação. Welba Sionara, por sua vez, interpreta a arquetípica personagem da Mãe/Santa, papel difícil pela discrição e contenção da ação, que não envolve grandes movimentos nem falas. Ainda assim, sem dizer uma palavra, a atriz faz com que seu personagem polarize as atenções em todas as cenas que aparece, deixando no palco o eco de sua passagem. Na área técnica, se a sonoplastia é um tanto inadequada (a introdução de sucessos da MPB destoa do clima mítico do trabalho) a direção de arte (figurinos, iluminação, adereços) impressiona pelo modo como extrai novo fôlego e beleza de elementos já explorados à exaustão em espetáculos do gênero, sugerindo o paradoxal intimismo de uma tapera que é, ao mesmo tempo, o altar de uma espécie de catedral erguida em honra do imaginário sertanejo.
Um comentário:
Que texto lindo!
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