quarta-feira, janeiro 17, 2007

Mito

Essa antiga igreja foi tomada por uma árvore - ou muitas delas reunidas como se fossem uma - e se tranformou num lugar mítico, evocando o fato de que a natureza e a racionalidade humana poderiam, enfim, se entender. Fica num lugar ermo, uma região chamada Baiacu, no centro da Ilha de Itaparica. De fato, estava deserto quando estivemos lá. Dentro da velha nave do templo, vestígios de que a comunidade local faz festas ali, talvez até missas ou ritos: fitinhas decorativas, velas acesas, ex-votos, pedidos aos santos. Mas aquelas paragens de sonho já não pertencem mais a uma ou outra religião, se muito é um espaço disponível para todas ou nenhuma delas. Ali se expressa a liberdade de auto-(re)criação intrínseca à essência da vida. Que esse recanto fantástico possa permanecer assim, vivo, respeitado em sua delicada imensidão.
























































17 comentários:

Telejornalismo Fabico disse...

*


pô, muito legal lugares assim.
essa mescla de orgânico e sintético, de culturas diferentes, de forças opostas é muito rica mesmo.
deve ser um lugar muito bom de visitar.



*

Luiz Felipe Botelho disse...

É, sim, Xôn. Até porque fica muito forte a idéia de que a convivência entre opostos não só é possível como extasiante. Quando me levaram lá eu nem fazia idéia e acho que o impacto foi maior. Tem uma energia muito forte no silêncio que faz no lugar, o perfume da vegetação misturado com terra molhada, os ruídos do vento passando, a delicadeza de tudo aquilo contrastando com o tamanho do ambiente, o acolhimento, o mistério. A gente se emociona fácil, fica a marca na alma. Qdo vier à Bahia, vá lá (mas vá em grupo - fica muito afastado. Talvez por isso ainda esteja assim, como está, não sei).

Marcia disse...

que bela locação, hein?
já imaginei uma historinha.

Anônimo disse...

Meu Deeeeeeus!!!! que qui é isso?!
Uau!

Luiz Felipe Botelho disse...

Pode crer, Pinta. Eu só pensava num filme passado ali. Se fosse ambientado durante o dia, seria um filme juvenil, mágico, com duendes e fadas. À noite, um filme de terror com vampiros!

E qual foi a historinha que imaginaste? Conta, vai, conta!!!

Luiz Felipe Botelho disse...

De cair o queixo, né Bia?
Beijão

Ana disse...

Impressionante a interferência da natureza, transformando o que já era um templo num lugar sagrado...

Luiz Felipe Botelho disse...

Bem colocado, Aninha.
Tudo indica que o sagrado decorre da ação do que é vivo sobre aquilo que, de outra maneira, seria nada mais do que forma.

Aleksandra Pereira disse...

Lipe,

As tuas imagens me lembraram dos mitos de uma árvore que ainda não vi de perto, o Baobá. As principais referências que tenho da árvore são da TV, imagens de Moçambique. Quando passar por Natal de novo, vou procurar.

Seus galhos, que mais parecem as raízes de uma árvore plantada de cabeça para baixo, formam um conjunto que lembra uma igreja abandonada, muito antiga, carregada de símbolos e significados.

(E outro traço bacana e útil do Baobá é que, quando já muito velho, ele pode ser escavado por dentro e usado como coletor e reservatório de água da chuva, mantendo-a fresca porque sua camada externa continua viva).

É mesmo uma "árvore mãe": alimento, água, roupas, matéria-prima para construção de cabanas, cola, remédios, abrigo, colares e até doces.

E viva a Mãe Natureza. E os mitos que dão sabor a vida.

Beijo.

paty disse...

Essas imagens me transportaram à antigos rituais sagrados. Tentei sentir daqui a energia deste local. Muito bom Lipe!Você sempre superando com teus posts. Beijos

Luiz Felipe Botelho disse...

Tem um baobá na praça da República no Recife, na frente do Teatro de Santa Isabel. É uma árvore linda, sim, e, de fato, lembra muito as formas das raízes que envolvem a igreja de Itaparica.

Falam que os baobás que nascem no Brasil são anões, comparados aos africanos, gigantescos, imponentes. Acham que tem a ver com o solo e o clima.

Fiquei encantado com a descrição que você fez. Deu a maior vontade de vê-los e ver o que ele oferece para o mundo. Beleza.

Beijo pra ti

Luiz Felipe Botelho disse...

Parece um lugar de rituais xamânicos, não é?
Mas, pelo que vimos, o que tem rolado lá com mais frequência ainda são ligados à tradição católica e aos cultos afro-brasileiros. Se o pessoal do xamanismo descobrir...

Ah, esqueci de falar que há um cemitério atrás da igreja, que ainda está em pleno funcionamento, tem vigia, é bem cuidado, muros pintados e tido. Talvez o abandono seja só parcial. Difícil entender a condição daquele lugar.

Beijo

Aleksandra Pereira disse...

Lipe, pelo que eu li, são uns 20 exemplares de Baobá aqui no Brasil, sendo que 16 estão em Pernambuco.

Um famoso fica na cidade de Nossa Senhora do Ó (Pernambuco), com mais de 350 anos e 15 metros de circunferência. A idade não sei como foi calculada, já que o Baobá não produz anéis de crescimento (de onde pode-se tirar um outro mito, o de longevidade, imortalidade...).

Oxe, escrever tanto sobre Baobá me deu vontade de ler O Pequeno Príncipe de novo.

Beijo.

Anônimo disse...

diretamente das nuvens, lá da ilha de Laputa... para o liperama!
ou ainda, atrás desse portal está a escola nova.... num tempo estranho, de provas e passagens...
vai atravessar?

Luiz Felipe Botelho disse...

Eu não sabia disso, Alê, que havia tantos baobá em PE ou que ele não tinha anéis de crescimento. Mágico, isso, não é?

Quero ir lá em N S do Ó fotografar esse baobazão.

Quando eu era criança não entendi bem o Pequeno Príncipe. Viajava nas aquarelas do Saint-Exupèry, especialmente a daquela do asteróide cheio de baobás, com aquelas raízes todas. Só na adolescência as fichas caíram. Sempre que posso dou uma folheada. Viajo bonitinho naquela prosa-poesia.

Beijo

Luiz Felipe Botelho disse...

É Laputa mesmo, Rê.
Sabias que, quando assisti o "Castle in the sky" do Miyazaki, me deu uma vontade de conhecer aquele lugar? Acho que visitar ]a igreja de Baiacu teve um saborzinho de estar em Laputa.

To pensando, atravesso ou não?
A tentação é grande...

Aleksandra Pereira disse...

O filme do Miyazaki não assisti, mas sempre tive curiosidade em saber das semelhanças e diferenças de sua Laputa com a de Jonathan Swift e as idiotices de seus intelectuais, no "As viagens de Gulliver".

beijo