De longe o forte é só um fortim, sem peitos, por que são cúpulas, nem pintos, pois são, antes, pontas. Parece até um bolo de noiva, comemorando o casamento da baía com os pescadores que vão e vêm. Quaisquer pescadores, de qualquer época.
Não creio que valha a pena saber quantos mundos existem num mundo. Já é suficientemente trabalhoso lidar com a idéia de que há mundos partilhando um mesmo mundo.
Aconteceu semana passada a estréia de Bodas de Sangue, de Federico Garcia Lorca, direção do professor Daniel Marques com a turma do Módulo 5da graduação em Artes Cênicas (Interpretação) da Escola de Teatro da UFBA.
Queridos amigos e visitantes, desejo que cada um de nós possa se manifestar como o Papai Noel de si mesmo, das pessoas que ama, dos vizinhos, de seu meio, não como aquela criatura mítica que simplesmente realiza desejos, mas como quem oferece sua presença como inspiração para que todos realizem seus próprios sonhos, confiantes na possibilidade dessa concretização, sem receios, nem dúvidas, em paz. E independentemente disto ser mais uma de minhas viagens, é óbvio que desejo a todos um belo e muito feliz... Natal!
P.S.: Excepcionalmente, só haverá novos posts no Liperama a partir de 26 de dezembro, terça-feira próxima.
O maior risco de se divertir criando riscos aleatórios de luz é a gente perceber que não é necessário entender algo para se gostar daquilo. Brinca-se e isso já é bom o bastante.
É possível olhar a mesma paisagem segundo mil ângulos distintos. É possível se surpreender com cada um deles. Mas também é possível não crer nessa possibilidade e se contentar com uma única e imutável versão da mesma paisagem.
O sol que se vai é força de expressão. Em relação à nós, parece que ele gira, mas quem gira é a Terra. Em relação ao sistema solar, o sol não sai do lugar. Em relação ao universo, só Deus, que vê as coisas de longe, sabe o que esse sol apronta por aí.
Imagens de alguns trabalhos da interferência artística realizada no dia 9 de dezembro nas ruínas da antiga - e bela - fábrica de refrigerantes e cristais Fratelli Vita em Salvador. O evento foi coordenado pela professora Viga Gordilho (que também criou a instalação com os tsurus mostrada na segunda foto), como atividade de conclusão da disciplina Processos Criativos do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFBA. Nas quatro últimas fotos, a aluna-mestranda Renata Cardoso leva adiante o trabalho que mostrou há alguns meses aqui no Liperama, desta vez com a colaboração da atriz Samanta Olm.
No meio do calorzão imenso, segue a lista completa da Sorveteria da Ribeira, onde a Juliana da música "Domingo no parque", de Gilberto Gil, teria comprado um vermelho sorvete de morango. Para ver melhor os sabores, é só ampliar a foto.
À época da fundação de Salvador, a primeira ermida construída foi dedicada a Nossa Senhora da Conceição da Praia. A antiga ermida tornou-se essa igreja da foto, que fica significativamente voltada para o grande útero inspirador que é a baía de Todos os Santos. Salve a Grande Mãe!
Herdeiro da nobre linhagem de besouros aviônicos, o navinseto anuncia o mico aéreo que paguei e que está hoje aqui narrado atendendo à convocação do Leonardo do blog Indizívele seu novo projeto Mico publicável. Leia o mico liperâmico após a foto do navinseto.
Eu tinha catorze anos, vinha de Belém para Recife num avião com meu pai. Em Fortaleza, última escala da viagem, entraram vários artistas que haviam feito um show naquela cidade. Lembro de Chacrinha e de Wanderléia passando pelo corredor.
Naqueles anos eu enjoava muito quando andava de avião, especialmente em viagens longas. Até ali eu estava bem. Achei que ia chegar no Recife sem problemas, mas quando o avião começou a descida, passando por dentro das nuvens, balançando e dando aqueles sobroços frios na barriga dos passageiros, procurei o saquinho de plástico e vomitei. Era, porém, um saquinho com o fundo furado e o líquido vazou no meu colo, na cadeira, na minha calça, o caos. Papai sorriu, pediu calma, chamou a aeromoça. Ela trouxe toalhas, sorrisos e mais saquinhos. De vez em quando voltava e perguntava se estava tudo bem. Não estava. Mas eu não falei isso para ela.
Minha calça marrom tinha ficado com uma área escura indicadora de umidade justamente nas partes mijantes, cagantes e adjacências. E o avião estava pousando, aquela umidade não ia secar assim. O avião pousou. Torci para abrirem também a porta de trás, como aconteceu em Fortaleza. Claro, pois estávamos sentados quase no fundo do avião e, se a saída fosse pela frente, eu teria que cruzar todo aquele corredor, desfilando evidências que poderiam dar a impressão de que eu havia me borrado todo. E eu só vomitei.
Acontece que mico que é mico, quando se instaura não tem apelação e no Recife resolveram abrir somente a porta dianteira. Lá fui eu, com meu pai na frente - eu pedi a ele - para ver se me escondia um pouco: não sei porque eu me sentia mais envergonhado de parecer ter me urinado do que dar a idéia de que havia me cagado todo. Seguro da eficiência do escudo paterno, comecei a me sentir menos desconfortável, apesar de sentir a calça molhada arranhando minha virilha. Ajudava também o fato de que tinha muita gente saindo na escala, o corredor estava cheio, todo mundo se emprensando e eu pensava: "ninguém vai ver nada na minha roupa nesse vuco-vuco". Porém, lá perto da porta de saída, na primeira classe, vi emergindo altaneiro do encosto de uma cadeira, o cabelão armado cor-de-fogo da Wanderléia.
A luz do sol entrava forte pela porta aberta e a fila parecia mais frouxa naquela área. Entendi que, ao passar por ali, eu certamente ficaria muito mais exposto. Ah, eu nem olhava para os lados. Pelo canto do olho via aqueles cabelos ruivos se aproximando, meu coração aos pulos, acho que eu nem estava respirando. Passei junto da Wanderléia dando um jeito para a minha valise à tiracolo esconder a umidade do traseiro e, quando pensei que tinha conseguido me livrar daquele mico interminável, ouvi uma voz feminina com sotaque carioca comentando com alguém: "nossa, aquele ali se vomitou todo, olha esse cheiro, ai, coitado, que horror!"