Seriam, sim, Aninha. Mas o que me incomoda mesmo são as prisões. E aqui me refiro às que estão em atividade. Os fortes, fortalezas e quartéis que viraram edifícios históricos me parecem mais gigantescos playgrounds. Eu acho bonitos, não vou negar. No final das contas agridem menos a paisagem do que as torres de 30, 40 andares que vivem construíndo frenetica e orgulhosamente (orgulho de que, meu Deus?) na cidade onde nasci, roubando o horizonte das pessoas que não conseguem mais ver um por do sol que deveria ser de todos. Não sou contra edifícios. Sou contra excessos, ganância, prepotência com o que é de todos os cidadãos. Poxa, Aninha, o adensamento desordenado do Recife me deixa tão triste... Beijo!
Ótimo ele não ter resistido, o que não significa falta de força! Ser arrebatado por uma beleza assim tão linda, é de doer.
Também não gosto nada desse ajuntamento de prédios que cada dia cresce mais e mais. Olhando as fotos antigas do meu bairro, conversando com as pessoas, encontro histórias tão lindas e nem tão antigas, pois muitas ainda remontam à infância de meu pai: chácaras e plantações enormes, com vizinhos - imigrantes, em sua maioria - trocando hortaliças, remédios caseiros, tudo isso pertinho da praia, que ainda não possuia nosso orgulhoso jardim, mas que já era linda em sua formosura.
Em Pelotas é proibida a construção de prédios com mais de três andares em quase toda a cidade - exceção à uma pequena área central! E isso faz muuuito tempo!
Quem sabe Recife não copia?
Um pouquinho de bom senso não faz mal a ninguém, né?
Hummm, legal Alê, gostei! É verdade, as vezes é preciso ser forte para deixar de resistir ao que é realmente importante.
É fácil construir prédios, fazer igual a tantas metrópoles que hoje amargam um processo rápido de desumanização. Difícil é fazer diferente, é ousar resgatar a beleza das cidades, ousar ser cidadão, enfrentar o desafio de aprender a ir construindo algo de bom que beneficie a todos e não só a uma minoria.
Senti na pele a mudança da minha cidade. Se você se sente triste ao ver as fotos de uma Santos que não existe mais, imagine o que sinto por ter testemunhado a demolição e verticalização de bairros inteiros, lugares que perderam a tranquilidade e a qualidade de vida. E ainda ter que ouvir a publicidade da imobiliárias achando tudo aquilo maravilhoso. Dos lugares onde brinquei na infância, quase nada mais resta. Lamento não por saudosismo, mas porque os automóveis e a violência engoliram os recantos onde antes as crianças brincavam e as pessoas passeavam tranquilas.
Ah, pesou, não foi? É que essas coisas ficam presas, aqui. Numa hora dessas, acabam saindo. Tudo bem. Vamos adiante.
Fala não, Mari. Estao acabando com Casa Forte. O bairro vai virar um paliteiro como todo o resto da cidade já está virando.
Recife está perdendo a personalidade. Daqui a mais uns dez anos vai ficar igual a qualquer outra metrópole.
Progresso? Ter horizonte coalhado de arranha-céus, hospitais de luxo, shopping centers, multiplexes, centro limpo e aeroporto bonito é progresso? Penso nos amigos que morrem assassinados na porta de casa e nos sinais de trânsito, nas crianças asssaltadas no caminho da escola, nas ruas cada vez mais escuras com as sombras dos paredões dos condomínios-fortalezas, na pobreza caótica que tenta acompanhar uma realidade que parece zombar dela. Não dá pra falar em progresso se essas coisas se agravam por trás de um cenário que parece pretender emular uma cena paulista ou novaiorquina. Que pretensão provinciana e vazia. Isso sim é que é pobreza. Gente não é cena, é coração. E me dói também, Mari, ver que a cada dia nossa cidade perde um pouco mais de espaço para esse coração sobreviver. Tomara que isso mude para melhor enquanto há tempo.
Pena que, a julgar pelas evidências, nós daqui do Nordeste ainda padeçamos dos efeitos de anos de uma vivência atrelada ao coronelismo. Bom senso, aqui, tem outros significados.
Parabéns para os pelotenses e para aqueles que NÃO vêem as cidades como extensõs exclusivas de seus próprios umbigos. Muito da beleza que sua cidade tem hoje certamente se deve ao amor e empenho que seus habitantes (e aí se incluem os políticos) tem por ela e pela qualidade de vida que ela pode e deve oferecer, hoje e sempre. Beijão
Sabe que apesar de o tema ter tomado esse rumo do crescimento das metrópoles que acabam se descaracterizando, quando li FORTE, título do post, pensei: TUDO A VER com minha mãe, que faz aniversário hoje. Sim, ela é FORTE. E como na paisagem, ela tomou conta do espaço dela e, está ali, incrustada na gente (em mim e meus irmãos), farolando... E a gente não se permitiu acimentar nem acizentar feito os arranha-céus, e o concreto é só o nosso amor por ela... (Tô assim porque ficamos penduradas quase uma hora no telefone hehehhe)^^ Num paralelo agora com as grandes cidades, ficamos sim, indignados, porque, em nome desse "progresso", além de paredes e grades, as pessoas vão levantando entre si, distâncias... Moramos num "condomínio" embora nem conheçamos nossos vizinhos "de porta". Não tenho só saudade do sol, da lua, de árvores e pássaros, quando olho pra cima e vejo a "verticalização inteligente dos espaços". Tenho saudade de gente. Gente que coloca a cadeira na porta e papeia potoca. De gente criança que brincava queimada na rua... Sinto falta de gente viva de verdade. Beijim, Felipe. Tommy
Primeiro, parabéns pra mãezona, Tommy. Tudo de bom pra ela e pra toda a paisagem familiar. Segundo, você resumiu objetivamente as minhas sensações: nós todos moramos cada vez mais perto uns dos outros e cada vez mais distantes de nós mesmos. Que bom que a gente está podendo falar sobre isso para ajudar a fazer essa paisagem mais bonita. Beijim pra ti
Nossa, brincar de queimada na rua era tão bom, Tommy! Era fera, sempre a última no jogo. Festejava mais que o Rocky nas escadarias, uma euforia só. Andava descalça, sem lenço nem documento, e todo mundo se reunia em grupinhos pela rua: a turma das meninas, curiosas, para olhar a dos meninos, que acaloradamente discutiam as partidas de futebol. A gente não colocava cadeira não, sentava na calçada ou no meio-fio mesmo, decorando passos de dança e combinando como seria o primeiro beijo, depois o empenho para garantir o segundo, o terceiro...
Hoje meus vizinhos ouvem funk no volume máximo, largando a escola e tendo filhos na idade em que ainda nos arrumávamos para os namoradinhos de festas.
Não faz tanto tempo, mas a diferença é marcante, triste e gritante.
11 comentários:
...
O mundo e a paisagem seriam tão mais bonitos sem fortes, fortalezas, quartéis...
Tua foto ficou bonita, claro!
Beijos!
Seriam, sim, Aninha.
Mas o que me incomoda mesmo são as prisões. E aqui me refiro às que estão em atividade.
Os fortes, fortalezas e quartéis que viraram edifícios históricos me parecem mais gigantescos playgrounds. Eu acho bonitos, não vou negar. No final das contas agridem menos a paisagem do que as torres de 30, 40 andares que vivem construíndo frenetica e orgulhosamente (orgulho de que, meu Deus?) na cidade onde nasci, roubando o horizonte das pessoas que não conseguem mais ver um por do sol que deveria ser de todos. Não sou contra edifícios. Sou contra excessos, ganância, prepotência com o que é de todos os cidadãos.
Poxa, Aninha, o adensamento desordenado do Recife me deixa tão triste...
Beijo!
Ótimo ele não ter resistido, o que não significa falta de força! Ser arrebatado por uma beleza assim tão linda, é de doer.
Também não gosto nada desse ajuntamento de prédios que cada dia cresce mais e mais. Olhando as fotos antigas do meu bairro, conversando com as pessoas, encontro histórias tão lindas e nem tão antigas, pois muitas ainda remontam à infância de meu pai: chácaras e plantações enormes, com vizinhos - imigrantes, em sua maioria - trocando hortaliças, remédios caseiros, tudo isso pertinho da praia, que ainda não possuia nosso orgulhoso jardim, mas que já era linda em sua formosura.
Beijo
Em Pelotas é proibida a construção de prédios com mais de três andares em quase toda a cidade - exceção à uma pequena área central! E isso faz muuuito tempo!
Quem sabe Recife não copia?
Um pouquinho de bom senso não faz mal a ninguém, né?
Beijos!
Eu moro em Casa Forte, cê sabe. Os espigões se proliferam de um jeito que dá vontade da gente virar psicopata, baleando o mundo.
Ô dor.
Beijo!
Hummm, legal Alê, gostei!
É verdade, as vezes é preciso ser forte para deixar de resistir ao que é realmente importante.
É fácil construir prédios, fazer igual a tantas metrópoles que hoje amargam um processo rápido de desumanização. Difícil é fazer diferente, é ousar resgatar a beleza das cidades, ousar ser cidadão, enfrentar o desafio de aprender a ir construindo algo de bom que beneficie a todos e não só a uma minoria.
Senti na pele a mudança da minha cidade. Se você se sente triste ao ver as fotos de uma Santos que não existe mais, imagine o que sinto por ter testemunhado a demolição e verticalização de bairros inteiros, lugares que perderam a tranquilidade e a qualidade de vida. E ainda ter que ouvir a publicidade da imobiliárias achando tudo aquilo maravilhoso. Dos lugares onde brinquei na infância, quase nada mais resta. Lamento não por saudosismo, mas porque os automóveis e a violência engoliram os recantos onde antes as crianças brincavam e as pessoas passeavam tranquilas.
Ah, pesou, não foi? É que essas coisas ficam presas, aqui. Numa hora dessas, acabam saindo. Tudo bem. Vamos adiante.
Beijo
Fala não, Mari.
Estao acabando com Casa Forte. O bairro vai virar um paliteiro como todo o resto da cidade já está virando.
Recife está perdendo a personalidade. Daqui a mais uns dez anos vai ficar igual a qualquer outra metrópole.
Progresso? Ter horizonte coalhado de arranha-céus, hospitais de luxo, shopping centers, multiplexes, centro limpo e aeroporto bonito é progresso? Penso nos amigos que morrem assassinados na porta de casa e nos sinais de trânsito, nas crianças asssaltadas no caminho da escola, nas ruas cada vez mais escuras com as sombras dos paredões dos condomínios-fortalezas, na pobreza caótica que tenta acompanhar uma realidade que parece zombar dela. Não dá pra falar em progresso se essas coisas se agravam por trás de um cenário que parece pretender emular uma cena paulista ou novaiorquina. Que pretensão provinciana e vazia. Isso sim é que é pobreza. Gente não é cena, é coração. E me dói também, Mari, ver que a cada dia nossa cidade perde um pouco mais de espaço para esse coração sobreviver. Tomara que isso mude para melhor enquanto há tempo.
Beijão
É um exemplo lindo, esse, Aninha.
Pena que, a julgar pelas evidências, nós daqui do Nordeste ainda padeçamos dos efeitos de anos de uma vivência atrelada ao coronelismo. Bom senso, aqui, tem outros significados.
Parabéns para os pelotenses e para aqueles que NÃO vêem as cidades como extensõs exclusivas de seus próprios umbigos. Muito da beleza que sua cidade tem hoje certamente se deve ao amor e empenho que seus habitantes (e aí se incluem os políticos) tem por ela e pela qualidade de vida que ela pode e deve oferecer, hoje e sempre.
Beijão
Sabe que apesar de o tema ter tomado esse rumo do crescimento das metrópoles que acabam se descaracterizando, quando li FORTE, título do post, pensei: TUDO A VER com minha mãe, que faz aniversário hoje. Sim, ela é FORTE. E como na paisagem, ela tomou conta do espaço dela e, está ali, incrustada na gente (em mim e meus irmãos), farolando... E a gente não se permitiu acimentar nem acizentar feito os arranha-céus, e o concreto é só o nosso amor por ela... (Tô assim porque ficamos penduradas quase uma hora no telefone hehehhe)^^
Num paralelo agora com as grandes cidades, ficamos sim, indignados, porque, em nome desse "progresso", além de paredes e grades, as pessoas vão levantando entre si, distâncias... Moramos num "condomínio" embora nem conheçamos nossos vizinhos "de porta". Não tenho só saudade do sol, da lua, de árvores e pássaros, quando olho pra cima e vejo a "verticalização inteligente dos espaços". Tenho saudade de gente. Gente que coloca a cadeira na porta e papeia potoca. De gente criança que brincava queimada na rua... Sinto falta de gente viva de verdade.
Beijim, Felipe.
Tommy
Primeiro, parabéns pra mãezona, Tommy. Tudo de bom pra ela e pra toda a paisagem familiar.
Segundo, você resumiu objetivamente as minhas sensações: nós todos moramos cada vez mais perto uns dos outros e cada vez mais distantes de nós mesmos.
Que bom que a gente está podendo falar sobre isso para ajudar a fazer essa paisagem mais bonita.
Beijim pra ti
Nossa, brincar de queimada na rua era tão bom, Tommy! Era fera, sempre a última no jogo. Festejava mais que o Rocky nas escadarias, uma euforia só. Andava descalça, sem lenço nem documento, e todo mundo se reunia em grupinhos pela rua: a turma das meninas, curiosas, para olhar a dos meninos, que acaloradamente discutiam as partidas de futebol. A gente não colocava cadeira não, sentava na calçada ou no meio-fio mesmo, decorando passos de dança e combinando como seria o primeiro beijo, depois o empenho para garantir o segundo, o terceiro...
Hoje meus vizinhos ouvem funk no volume máximo, largando a escola e tendo filhos na idade em que ainda nos arrumávamos para os namoradinhos de festas.
Não faz tanto tempo, mas a diferença é marcante, triste e gritante.
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